Facilitando a Empatia

Como contribuir para o desenvolvimento da empatia nas crianças?

Toda criança desenvolverá empatia espontaneamente (salvo casos especiais, quando o desenvolvimento infantil é comprometido por transtornos invasivos, por exemplo), assim como espontaneamente falará. A questão é que da mesma maneira que as incentivamos a falar e as apoiamos para que sejam boas oradoras também podemos apoiá-las na empatia, para que sejam boas “escutadoras”.  

- Quer um filho/aluno empático? Seja empático com ele! Cada educador tem seu estilo próprio e não se deve ensinar o padre a rezar a missa, mas algumas práticas educativas são mais favoráveis ao desenvolvimento da empatia, e outras podem atrapalhar bastante. Por exemplo: filhos de mães atenciosas, não punitivas e não autoritárias são geralmente mais empáticos; conversar com as crianças sobre os efeitos do seu comportamento sobre os outros e sobre a importância de compartilhar e cooperar geralmente promove a empatia e o comportamento pró-social; pais que se comportam empaticamente com os outros na presença dos filhos também favorecem este tipo de comportamento nas crianças. Os pais são os primeiros modelos dos filhos, como mais tarde serão os professores e os amiguinhos.  Pais emocionalmente expressivos, que respondem com simpatia e preocupação aos sentimentos de impotência e mal-estar de seus filhos, ensinam à criança a expressar mal-estar sem vergonha e a responder simpaticamente ao mal-estar dos outros. Pais empáticos, além de serem em geral mais responsivos ao mal-estar de seus filhos, validando e reforçando suas experiências e facilitando a vinculação segura, também modelam o comportamento empático e cuidadoso das crianças.

- “Se não preciso me preocupar comigo, então posso me preocupar com você” O interesse pelos outros, condição necessária para o desenvolvimento da empatia, nasce do profundo vínculo afetivo entre a mãe e o bebê. O apego fundamentado nesta interação saudável confere às crianças um sentimento de segurança. Crianças confiantes são menos preocupadas em satisfazer suas próprias necessidades e se tornam mais disponíveis e sensíveis aos sentimentos e às necessidades dos outros: “se não preciso me preocupar comigo, então posso me preocupar com você.”

- Como você se sentiria? Induzir a criança a se colocar no lugar do outro é uma das maneiras mais eficazes de se promover empatia. Fazemos isto espontaneamente, quando dizemos: “Você gostaria que fizessem isso com você? Como você se sentiria?”. Mas, sabendo disso, fazemos mais. Dirigir a atenção da criança ao mal-estar da vítima, quando ela fere ou magoa outra pessoa, induzindo-a a se imaginar em seu lugar leva a criança a refletir sobre como o seu comportamento afeta os outros. Filhos de pais indutivos são, em geral, mais empáticos e mais pró-sociais que filhos de pais punitivos. Manifestações de desapontamento como, por exemplo: “eu não esperava isso de você” – são consideradas um tipo de indução, na medida em que fazem referência aos sentimentos feridos e comunicam, ao mesmo tempo, a confiança dos pais na capacidade da criança de se comportar melhor. Neste aspecto, o desapontamento não apenas cultiva a empatia, como também induz o autoconceito pró-social.

- “Sei que você vai dividir o seu biscoito, porque você é legal!” Crianças que têm uma boa opinião sobre si mesmas são mais inclinadas a empatizar com as outras. Um aspecto do autoconceito positivo que pode ser especialmente útil é a percepção de si como um sujeito generoso, independente e competente. A atribuição de qualidades positivas é uma boa estratégia para promover o autoconceito pró-social. Afirmar para a criança que ela tem o poder de fazer os outros felizes, sendo gentil e generosa, e que o motivo para ela agir desta forma é a sua natureza (ex., “aposto que você vai emprestar o seu brinquedo, porque você é um menino legal, que gosta de fazer os outros felizes”) promove o autoconceito positivo e favorece o desenvolvimento da empatia. Uma maneira de promover uma avaliação positiva das competências de uma criança e ao mesmo tempo facilitar o comportamento empático é oferecer a ela oportunidades para cuidar e ajudar os outros. Isto faz com que ela perceba a sua capacidade para aliviar o mal-estar compartilhado e a torna mais inclinada a empatizar com os coleguinhas menos competentes.

Há muitas maneiras de ajudar as crianças no desenvolvimento da empatia por outro lado, algumas práticas despertam a preocupação autocentrada, modelam o comportamento agressivo e não oferecem oportunidades para a consideração empática. A ausência de cuidado e de assistência diante do mal-estar e da impotência da criança, por exemplo. A criança que precisa se preocupar com sua própria segurança e bem-estar torna-se menos disponível para prestar atenção às necessidades e aos sentimentos dos outros. No mesmo sentido funciona a violência doméstica. Acostumar-se com a violência em casa torna as crianças tipicamente inábeis para reconhecer e responder apropriadamente aos estados emocionais das outras pessoas. Crianças maltratadas ou que sofrem castigos físicos repetidos tendem a responder com ameaças, raiva e agressão física ao mal-estar dos companheiros, tendem a ser retraídas, a ter pouca autoestima e a mostrar padrões reativos de hostilidade e agressividade. Coersão e ameaça de punição, com o objetivo de melhorar o comportamento, também promovem a preocupação voltada para as consequências externas e prejudicam o comportamento pró-social. O estilo de disciplina autoritário e o distanciamento afetivo, por sua vez, fazem com que a criança obedeça e leve a mensagem do cuidador a sério, mas não promovem o sentimento e a preocupação empáticos. Estimular exageradamente a competitividade, por fim, pode provocar a preocupação excessiva com o próprio desempenho, prejudicando a inclinação das crianças para responder diante da necessidade dos outros. De uma maneira geral, as variáveis que favorecem o desenvolvimento da empatia se relacionam a um contexto que oferece à criança uma variedade de oportunidades para experimentar e expressar diferentes emoções e que satisfaz as suas necessidades físicas e emocionais, desestimulando a preocupação excessiva por si mesma.

POSITIVAS NEGATIVAS
Responsividade parental consistente Responsividade parental falha ou inconsistente
Disciplina indutiva/Afirmação de desapontamento Disciplina autoritária e punitiva/Distanciamento afetivo
Atribuição de qualidades positivas Castigo físico repetido
Promover a percepção de semelhança Comunicação de crenças e valores associados aos diversos tipos de preconceito
Incentivar comportamentos de ajuda e cooperativos Promover a competitividade exagerada
Argumentação e motivação Uso de prêmios ou reforços com tom de “suborno”

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Créditos: Danielle da Cunha Motta